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02 maio 2011

Entrevista de Patricia Amorim

dudu nobre patricia amorim festa flamengo plataforma (Foto: André Durão / Globoesporte.com)

Patricia Amorim teve uma noite de sono tranquila no domingo, levantou cedo da cama nesta segunda-feira para cumprir a promessa de pintar as unhas de vermelho, mas não sonha acordada. No dia seguinte à conquista do título do Campeonato Carioca, a presidente do Flamengo explicou de onde vem o poder de reação quando tudo parece estar perdido:

- Fui nadadora fundista (provas longas). Quando todo mundo está morrendo, você reage.

Numa entrevista franca ao GLOBOESPORTE.COM, Patricia Amorim destacou a necessidade de novas contratações, mas diz que a torcida não deve esperar 11 Willians, 11 Léo Moura ou 11 Thiago Neves. A dirigente rasgou elogios para Vanderlei Luxemburgo, vibrou com o fato de o técnico ter aposentado os ternos e disse que o Flamengo ajudou Luxa a ser um pouco melhor.
Patricia revelou que por conta de episódio envolvendo Bruno, ficou com receio pela contratação de Felipe, que teve problemas disciplinares em outros times. Quando disse para Vanderlei que o acerto com o novo camisa 1 estava na sua conta, ela presenciou a transformação do treinador.
A dirigente admitiu que, em caso de aperto, poderá negociar jogadores que são patrimônio do clube, mas garante que no momento isso não é necessário. Durante a entrevista, ela recebeu uma mensagem de texto através do Iphone. Era o seu vice geral, Hélio Ferraz, comunicando que ela seria a vice-presidente do Clube dos 13 no lugar de Juvenal Juvêncio.
- Nem sei o que responder. Isso é bom ou ruim? Só sei que eu o trabalho me persegue.
Confira os principais trechos da entrevista.
Dia seguinte ao título
- Dormi muito bem. Às 9h, já estava no salão para pintar as unhas de vermelho, foi uma promessa que cumpro sempre que o Flamengo conquista um título. Só uso esmalte transparente, mas vou ficar duas semanas com essa cor, pois foi Taça Rio e Estadual. O Flamengo era o não-favorito contra Botafogo, Fluminense e Vasco. E estávamos invictos. Eu dizia: acho que não entendo nada.
Nova era do Flamengo
- O título ajuda bastante, mas começamos com o conceito desde o ano passado. Agora, as coisas estão funcionando. Temos um patrimônio em jogadores que são nossos. No ano passado, o Diego Maurício valia 1 milhão de dólares, agora vale 6, 7 milhões de euros, como o Galhardo, Lorran. Não temos medo de ter problemas financeiros. Todos os jogadores são nossos. Adryan, Lorran, Diego Maurício, Muralha, César são patrimônios do Flamengo, temos os direitos econômicos e federativos. Sem contar que compramos 100% do David Braz, Welinton, e não vendemos nada. Se tiver uma situação financeira complicada, podemos... Na sexta-feira, dia 28, os salários dos funcionários foram pagos adiantados.
Patrocínio
- Temos uma propriedade que tem um valor. As marcas têm que estar à altura do manto sagrado. Podemos nos dar ao luxo de ter esta atitude. O título ajudou até nisso. Se eles (patrocinadores) estavam desconfortáveis, a gente enche o peito e diz: "Nós ganhamos, vocês ficaram de fora". O Flamengo é um clube de competição, vive de vitórias. Agora vamos rumo ao futuro.
Elenco
- Tenho muito os pés no chão. Temos que saber a qualidade do nosso grupo, do elenco. Times de São Paulo, e o Cruzeiro, estão muito bem. Por isso, vemos a necessidade de nos reforçar, pelos adversários que teremos ao longo da temporada. Nossos adversários não são apenas os do Rio. Estes nós conseguimos vencer. Temos um Brasil pela frente. Mas a torcida precisa ter a percepção que não vamos ter onze Willians, onze Thiago Neves, onze Léo Moura, onze Ronaldinho... No fim, a conta tem de fechar.
Petkovic
- Estamos num processo de encerramento da carreira dele. Tudo está sendo muito bem conduzido, com calma e sensibilidade. Ele está satisfeito, nós também.
Vanderlei Luxemburgo
- Ele cobra muito dos jogadores, da comissão técnica, da diretoria. A cobrança dele é um desafio, pois é um treinador que tem cinco títulos brasileiros, é do mercado, é Flamengo, e tem competência. A coisa dele tirar o terno é fantástica. A gente também conseguiu transformá-lo num treinador melhor. Admiro muito o Vanderlei, ele é franco, fala palavrão comigo, fala o que sente. Quando ele se solta, fica aliviado. A reunião para contratá-lo durou seis horas. Ele não me cansa, eu não o canso. O Vanderlei quer acertar e sabe o que está fazendo. Ele me escuta. Já vi entrevistas dele em que usa a mesma expressão que usei. Penso: "Ele me ouviu mesmo". Ele desabafa muito comigo, reclamou que as camas do CT ainda não tinham chegado. Quando está pronto, digo: "Você não elogiou". Ele responde: "Ficou bom, bom".
Contratação de Felipe
- O crédito é todo do Vanderlei. Não tinha nada contra o jogador, mas continuava o trauma com a situação do Bruno. Vanderlei dizia: "Eu entendo, mas isso não tem a ver com o futebol. Tem de se livrar dessa coisa". Aí ele bancou o Felipe. No telefone, brincando, eu soltei alguma coisa do tipo: "Ó, está fechado. Essa está na sua conta." Ele ficou louco, brabo, largou tudo e apareceu na Gávea com aquele olho arregalado, dizendo que tinha de falar, que não estava aguentando. Aí ficamos a tarde inteira. Ele disse que temos de usar o nós.
Reuniões e Patricia "zen"
- No Flamengo, a gente conversa até 2h da manhã, quebra um pau danado, de vez em quando as pessoas têm comportamento de torcedores. Os resultados mostram que funciona, todos falando o que pensam, mas sem expor o Flamengo. Tenho paciência para escutar. As reuniões são acaloradas, até para decidir sobre o coral é polêmico. Tudo é tenso, enorme. Todo mundo grita. Deveria ser psicóloga, psiquiatra, e não formada em Educação Física. Passo por isso sempre muito serena. Quando eu nadava, era fundista. Quando todo mundo está morrendo, você reage. Eu aguento reuniões intermináveis, os conselheiros. O Vanderlei fala que quem foi atleta convive com pressão, consegue aguentar pressão de uma forma diferente. Não me deslumbro com nada.
Flamengo
- Comandar o Flamengo é muito complicado. Um parecer sobre uma contratação passa por várias aprovações, ou não, é preciso um consenso. É difícil, pois você consegue estudar e trabalhar administrando o racional, mas administrar paixão é uma loucura completa, pois todo mundo é técnico de futebol, todos entendem de política, todos sabem de tudo. O cara é voluntário, dirigente, conselheiro, e se acha dono do clube. Ouço coisas como "Ah, quero ir ao vestiário". Mas vestiário é um lugar sagrado. "Ah, fala com Luxemburgo que tem de trazer um lateral". É difícil administrar isso tudo.
Inteligência emocional e vaidade
- No futebol, as vaidades são exacerbadas. Todos chegam dizendo que na empresa faz assim, que tem experiência, mas o futebol é o imponderável, não tem lógica. É uma das poucas modalidades ou atividades que o lanterna pode ganhar do líder. O cara está bem condicionado e às vezes tropeça na grama. Consegui, com inteligência emocional , arrumar todas as áreas. Ser mulher, e não ser do mundo do futebol, ajudou. Você sendo do futebol conhece um empresário, ou foi dirigente quando o cara era jogador e agora é empresário. As relações interferem na negociação. Quero fazer o melhor para o Flamengo, que não tem mais dono.

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